Instituto Novo Ser
My video

Dia Nacional da Prevenção de Acidente de Trabalho:
como estamos e onde podemos chegar

Por José Roberto Pereira da EH&S Consultant
Engenheiro Químico, com Especialização em Segurança do Trabalho. Mestre em Gestão Integrada de Segurança e Meio Ambiente. Mais de 35 anos de experiência em empresas de grande porte nacionais e multinacionais.

No próximo dia 27 de julho é comemorado o Dia Nacional da Prevenção de Acidente de Trabalho. Esta data foi estabelecida como um dia para reflexão e realce - neste caso, ressaltar a importância da prevenção de acidentes no ambiente corporativo.

Como um dos desdobramentos da chamada Revolução Industrial, ocorrida principalmente no século XIX, os acidentes de trabalho e sua redução vieram, ao longo do século 20, sendo apontados como extremamente importantes por razões tanto econômicas quanto sociais, visto que provocam perdas para o trabalhador, para a empresa e para a sociedade como um todo.

Ao se acidentar, o colaborador perde sua capacidade laborativa e de produção de renda, já que normalmente só é suprida de forma parcial pelo empregador e/ou Estado. A empresa, por sua vez, necessita repor aquela posição, seja via contratação adicional de força de trabalho ou aumentando a geração de horas extras. Em ambos os casos, diga-se de passagem, acaba elevando o custo geral, dos produtos e serviços, causando assim aumento do preço, redução de vendas e em última instância um valor adicional para toda a sociedade.

O Brasil tem um número imenso de pessoas que, por acidentes de trabalho, ficam com sequelas permanentes de “incapacidade parcial”. Para se ter ideia, o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2017, publicado em 2019, um dos mais recentes e completos dados estatísticos a respeito dos Acidentes de Trabalho no Brasil, mostram que entre 2010 e 2017, houve uma média anual de 667 mil acidentes, totalizando 2.631 óbitos e 15.440 casos mais sérios com sequelas permanentes. Os números representam as pessoas com trabalhos formais e, portanto, cobertas pelo sistema de assistência social do Governo. Se considerar os autônomos e os considerados informais, os dados podem representar muito mais – estima-se que o dobro.

Os casos mais frequentes e sintomáticos são aqueles provocados por fraturas/amputação de partes ou totalidade de membros superiores (dedos, mãos e braços) ou inferiores (pés e pernas), além de perda de visão (parcial ou total) e queimaduras, além de problemas nas articulações.

Seria possível minorar esta situação?

Sim, desde que fosse seguida uma estratégia com alguns pilares principais:

- Mudança cultural por parte dos empregadores, investindo em melhoria das instalações e aquisição de máquinas e equipamentos mais modernos, além de eventuais reformas necessárias com foco na segurança dos colaboradores;

- Efetiva penalização para empresas com altos indicadores de acidentes e com instalações deficitárias em relação a proteção contra acidentes;

- Elevar o nível de educação da sociedade, com redução dos índices de analfabetismo geral e analfabetismo funcional. A possibilidade de leitura e interpretação aumenta a possibilidade de o indivíduo ler e entender instruções de trabalho que enderecem os riscos das atividades e seus controles;

- Melhoria no atendimento aos acidentados e programas realmente efetivos para reabilitação desses. Na maioria das vezes, o atendimento é realizado pelo deficiente sistema de saúde, incluindo falta de acompanhamento psicológico – extremamente necessário no caso de traumas, e um programa de readequação precário. O próprio sistema de seguridade social tende a aposentar o indivíduo, ao invés de ajudá-lo na reabilitação de qualidade;

- Ter programas efetivos de requalificação profissional dos acidentados.

Em pleno século XXI, é intrigante que tenhamos uma multidão de pessoas com deficiências causadas por acidentes de trabalho. A realidade precisa ser encarada de frente, com um encaminhamento devido e cuidadoso, sem preconceitos e com a certeza de que podem ter uma vida psicológica e economicamente aceitável, contribuindo para seu próprio bem-estar e para melhor harmonia da sociedade. A sociedade brasileira precisa ser mais inclusiva e justa para seus cidadãos.