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ESCLEROSE MÚLTIPLA

Produzido por Márcia Lima

DEFINIÇÃO
De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica do sistema nervoso central que afeta o cérebro e a medula espinhal e que interfere na capacidade do cérebro e da medula espinhal para controlar funções como caminhar, enxergar, falar, urinar e outras.

O cérebro é constituído por neurônios e muitas outras células. O neurônio tem um prolongamento chamado axônio. É através dele que o impulso nervoso é levado a diferentes locais do corpo para produzir alguma resposta. O axônio possui uma espécie de capinha de gordura chamada Bainha de Mielina. Ela tem a função isolante, isto é, de não deixar essa carga elétrica (o impulso nervoso) sair do axônio enquanto é conduzido de um local para outro.

Na Esclerose Múltipla, essa capinha de gordura que não deixa as cargas elétricas escaparem, é danificada pelo nosso sistema imunológico. Ele danifica essa “capinha” interpretando que ela é uma ameaça ao nosso organismo.

Assim, os impulsos elétricos que vão e vem do cérebro não chegam onde eram para chegar, por que essa energia sai do fio porque teve sua capinha (Bainha de Mielina) danificada.

Com isso, dependendo do lugar do corpo que a Bainha foi danificada, as funções como visão, movimentos, e controle do intestino e da bexiga, por exemplo, ficam comprometidas já que estas dependem desse impulso elétrico para receberem e enviar informações ao cérebro, e pode-se chegar a perdê-los.


ETIOLOGIA:
A causa da EM permanece desconhecida, pois não foram identificados os fatores que desencadeiam a resposta autoimune em pessoas geneticamente susceptíveis em uma influência complexa da carga genética e fatores ambientais.
Há suspeita que a EM seja resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Estudos recentes demonstraram que 30 a 60% dos novos ataques clínicos da doença ocorrem depois de uma gripe, resfriado ou doença viral comum.

INCIDÊNCIA:
Um membro da família com EM aumenta em 1:100 o risco de o cliente ser portador da doença. A incidência da EM é maior em locais distantes da linha do equador, sendo esse padrão determinado pelo local onde a pessoa viveu os primeiros 15 anos, o que confirma a influência de fatores ambientais.

Callegaro et al., em 1992, em estudos realizados na cidade de São Paulo, mostraram que a taxa de prevalência da EM é de aproximadamente 5/100.000 habitantes. Arruda et al., em 2001, em estudo com 200 pacientes de Curitiba, constataram que a idade média de início da patologia é de 32 anos, a relação entre os gêneros é de 1,8 mulheres:1 homem, e os pacientes em sua grande maioria são de raça branca. Esses dados diferem de estudos internacionais que indicam a idade média de início entre 20 e 30 anos, sendo, as mulheres 2 a 3 vezes mais afetadas que os homens.

Cinco por cento das pessoas com EM tem um irmão ou uma irmã com o mesmo diagnóstico e aproximadamente 20% tem um parente próximo com o mesmo diagnóstico. A prevalência mais alta da doença é entre caucasianos de ascendência norte-europeia.

SINAIS E SINTOMAS
No início a pessoa pode apresentar dormência e tropeçar com muita frequência devido a fraqueza muscular de membros superiores. Se isso acontece com certa frequência o médico deve ser procurando o quanto antes.

A Mielina tipicamente sofre lesões em regiões discretas da substância branca, ficando o axônio preservado. Os distúrbios da bainha mielínica tem efeitos diferentes na condução axonal, dependendo no grau do colapso e no comprimento do segmento lesado.

Quando a condução dos axônios está ocorrendo mais lentamente por causa da inflamação da bainha de mielina, o indivíduo com EM pode ter sintomas intermitentes de distorções sensoriais, incoordenação ou fraqueza. Esse processo inflamatório resulta na forma recorrente e remitente de EM.

Em casos avançados de EM aguda e crônica, desenvolvem-se placas por toda a substância branca, especialmente na medula espinhal, no nervo óptico e na substância branca periventricular, incluindo o corpo caloso. Os axônios podem estar lesados e rompidos em casos avançados, resultando em maior perda de funções.

DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico é realizado a partir da história, do exame neurológico e da visão clínica, baseando-se na presença dos seguintes critérios:

• Lesões em duas áreas distintas no SNC
• Ocorrência de sintomas em episódios com duração mínima de 24 horas, distanciados por um período de um mês.

O exame do disco do nervo óptico é importante para detectar aumentos na pressão intracraniana e diagnosticar esclerose múltipla.

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
Os sintomas que ocorrem na EM são relacionados a área do SNC que é afetada.
Os sintomas iniciais podem ser:

• Neuralgia trigemial e
• Piora dos sintomas, quando a temperatura do corpo é elevada. Estes sintomas podem ser temporários e podem se resolver.

Os estágios avançados podem ser o indivíduo pode apresentar:

• Graus variados de paralisia, desde paralisia total de membros inferiores até o comprometimento de membros superiores.
• Disartria (distúrbio da articulação da fala)
• Disfagia (dificuldade para engolir)
• Comprometimento visual grave
• Ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular)
• Espasticidade (distúrbio de controle muscular que é caracterizado por músculos tensos ou rígidos e uma incapacidade de controlar os músculos)
• Nistagmo (movimentos involuntários do globo ocular)
• Bexiga neurogênica (disfunção da bexiga)
• Déficits cognitivos (memória, atenção, raciocínio, etc.)

Os déficits cognitivos são relatados em 30 a 70% dos portadores de EM, mas não se relacionam necessariamente com o declínio físico.

Alterações emocionais, como depressão, também podem estar presentes; é menos comum observar um senso de indiferença.

A demência pode se desenvolver em indivíduos que apresentam euforia e indiferença. A demência ocorre em menos de 5% da população com EM.

A fadiga é reportada como um dos principais sintomas da EM que se manifesta de maneira específica em cada cliente, o que requer estratégias de gerenciamento individualizados, elaboradas a partir do levantamento da rotina diária.

A conservação de energia objetiva a maximização da quantidade e qualidade das atividades, minimizando a quantidade de energia despendida durante a performance ocupacional.



PROGNÓSTICO

O curso da EM é imprevisível e pontuado por episódios de exacerbação e remissão.

Uma exacerbação pode ser um episódio tão pequeno quanto a fadiga e a perda sensorial, ou tão grande quanto uma paralisia extensa ou total em todos os membros e perda do controle urinário.

As remissões podem envolver a resolução total dos sintomas, podendo resultar em um curto platô ou alguma perda das funções.

O prognóstico de EM está relacionado à forma de evolução, classificada de acordo com o curso clínico em quatro categorias:

SURTO-REMISSÃO:
Caracterizada por períodos de piora da função neurológica, seguido por remissão completa ou parcial dos sintomas. É a forma mais comum da apresentação da patologia.

A forma recorrente e remitente da EM envolve episódios de exacerbação e remissão, resultando em progressão lenta, passo a passo, à medida que os déficits se acumulam.

PROGRESSIVA-SECUNDÁRIA:
A maioria dos clientes que iniciam a doença na forma surto-remissão após 10 a 15 anos evolui para a forma progressiva-secundária, que é caracterizada por contínua progressão da doença; os surtos podem estar presentes também.

O curso secundário-progressivo começa com um padrão de surtos e remissões, mas evolui para a forma progressiva da doença.

PROGRESSIVA-PRIMÁRIA:
Consiste no contínuo declínio da função neurológica desde o início da progressão da doença, com pouca ou nenhuma melhora dos sintomas.

A forma primária-progressiva da doença distingue-se por um curso em declínio e pouca recuperação depois das exacerbações.

Indivíduos com esta forma, por fim, acabam sem locomoção e com incontinência urinária, e podem ter disfagia, disartria, pouca função dos membros inferiores bem como graus variados de função dos membros superiores.

Indivíduos com a forma primária-progressiva de EM, o tempo médio para chegar ao estágio de deficiência grave é de 10 a 25 anos.

 

Em geral, a expectativa de vida é quase normal para os portadores de EM.
Os sinais clínicos de um curso benigno são o início quando o indivíduo:

• É mais jovem
• É do sexo feminino
• E começa com sintomas sensoriais

Os sintomas geralmente se resolvem dentro de 6 semanas, podendo haver alguns déficits residuais.

Se a deficiência é mínima depois de 5 anos, o curso é considerado benigno.
A forma progressiva-recorrente de EM é rara. É identificado por progressão estável, mas com surtos específicos.

PROGRESSIVA-RECORRENTE:
Há progressão contínua entre os períodos de surto. São considerados fatores de pior prognóstico a apresentação na forma progressiva e a presença de comprometimento cerebelar.

O tipo e grau da intervenção oferecida serão determinados pelo ambiente, tipo de reembolso e resposta do paciente bem como do atendente ao tratamento.

TRATAMENTO
Como a doença é imprevisível e flutuante, ela leva as rupturas nas atividades diárias normais e na vida familiar. É importantíssimo que o paciente seja acompanhado por uma equipe multiprofissional que pode ser constituída por neurologista, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, dentre outros.

O ideal é que seja realizada uma avaliação da casa. Uma vez que nem todos os tipos de atendimento permitem uma avaliação da casa, o terapeuta ocupacional deve entrevistar o paciente e o atendente a respeito do ambiente doméstico e obstáculos em potencial.

Se o paciente tem um déficit cognitivo, um parente ou ente querido deve ser incluído no processo de avaliação para dar informações precisas.

Cada paciente apresenta um conjunto exclusivo de questões comportamentais e requer avaliação individual e uma abordagem de tratamento que englobe a família, o paciente e os atendentes.

A gravidez pode ser prejudicial à cliente, pois durante a gestação é produzida endorfina, hormônio que interfere no funcionamento do SNC.

Durante a gestação, o tratamento medicamentoso não pode ser realizado, o que pode ocasionar complicações como a ocorrência de surtos frequentes após o parto.

Quanto à escolha profissional, ressalta-se que profissões que requerem esforço físico são desaconselhadas devido à ocorrência de fadiga, o que reduz a habilidade para a performance ocupacional.

A conservação de energia objetiva a maximização da quantidade e qualidade das atividades, minimizando a quantidade de energia despendida durante a performance ocupacional.

Devido às frequentes hospitalizações decorrentes de surtos, o tratamento pode ocorrer na fase aguda no ambiente hospitalar. Nesse momento são enfocadas as atividades de vida diárias (AVDs) que o cliente é capaz de realizar e que influenciam na alta para o ambiente domiciliar.

Com a progressão da patologia há a acentuação dos déficits, o que limita a participação nas atividades do repertório ocupacional, sendo necessária a realização de adaptações. O terapeuta ocupacional pode auxiliar nesse processo de orientação sobre a rotina de atividades e possíveis adaptações a serem realizadas para facilitar o dia-a-dia da pessoa com Esclerose Múltipla.

CURIOSIDADE:

A atriz e comediante Claudia Rodrigues, conhecida por interpretar os papéis de Ofélia (Zorra Total) e Valdirene (A Diarista) foi diagnostica no ano de 2000 com esclerose múltipla.

Claudia alguns anos depois ficou afastada do seu trabalho por sua dificuldade de falar e andar, mas em 2012, com um tratamento com remédios e reabilitação, Claudia conseguiu controlar os sintomas e recebeu liberação médica para trabalhar. Ela retornou no programa Zorra Total interpretando a personagem Sirene. Atualmente Claudia Rodrigues está em cartaz no teatro com a peça "Muito viva". Segundo ela, são a dedicação à profissão e o apoio da família que a ajudam a conviver com a doença, que não tem cura.

BIBLIOGRAFIA:

JACOBS, K; JACOBS, L. in Dicionário de Terapia Ocupacional. São Paulo: Roca, 2006.
FARIA, I. Neurologia Adulto. In: CAVALCANTI, A; GALVÃO, c. Terapia Ocupacional: Fundamentação e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007
FOTI, D. in PEDRETTI, L. W.; EARLY, M.B. Terapia Ocupacional: capacidades para as disfunções físicas. São Paulo: Roca, 2005.
GILROY, A.M in Atlas de Anatomia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008
ABEM – Associação Brasileira de Esclerose Múltipla – Acessado dia 23/11/2015 às 23:05h. http://abem.org.br

REFERÊNCIAS PARA CONSULTAS:
Associação Brasileira de Esclerose Múltipla
http://www.abem.org.br

Esclerose Múltipla.com.br
http://www.esclerosemultipla.com.br/associacoes

Programa Bia
http://www.programabia.com.br/o-bia