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TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO

Produzido por Márcia Lima

DEFINIÇÃO
O Traumatismo Cranioencefálico (TCE) é um insulto ao cérebro, não degenerativo ou congênito, provocado por uma força física externa.

Pode produzir um estado alterado ou diminuído de consciência, dessa forma decorrendo deficiências dos desempenhos cognitivo, comportamental, emocional ou físico.

 

ETIOLOGIA :
O dano ao tecido cerebral pode ser causado por uma lesão focal ou lesão axonal difusa.

A lesão focal, por contusão ou laceração, refere-se aos danos decorrentes do impacto em um local específico do cérebro. Em caso de golpe intenso, há lesão concomitante em um ponto ao do impacto, o que é denominado lesão por contragolpe.

A lesão axonal difusa consiste em um cisalhamento disseminado dos axônios no interior da bainha de mielina, resultando em uma degeneração grave e generalizada da substância branca. Esse tipo de lesão está relacionado com a presença de velocidade, ou seja, quando há interrupção brusca da movimentação do cérebro, como ocorre em acidentes com veículo motorizado ou quedas de altura à altura da pessoa.

Algumas pessoas podem apresentar lesão focal associada à lesão axonal difusa decorrente, por exemplo, de um acidente automobilístico no qual ocorra um impacto sobre a cabeça somado ao impacto relacionado à velocidade.

A causa da lesão cerebral traumática está relacionada a idade do paciente:
• Na infância -> dos 5 aos 10 anos: A causa mais comum é o atropelamento.
• Na adolescência -> Prevalecem as lesões esportivas;
• Na idade adulta ->Acidentes automobilísticos e ferimentos por projéteis de arma de fogo e
• Entre idosos -> Ocorrência de quedas é a causa mais comum de TCE.

INCIDÊNCIA :
• 80% dos indivíduos que sofrem TCE são homens entre 18 e 30 anos de idade;
• O TCE ocorre com mais frequência em homens que em mulheres, em uma proporção de 4:1;
• A maioria dos homens jovens sofre TCE como resultado de acidente automobilístico, violência e esportes que tenham um elemento de risco;
• O uso de álcool é um fator que contribui para TCE;
• O risco de TCE é também é maior entre bebês, crianças pequenas e idosos;
• A mortalidade, porém, é mais alta em adultos que em crianças em razão da maior neuroplasticidade da criança.

TIPOS
Há dois tipos de TCE:

1. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO FECHADO (TCEF)
Neste o crânio permanece íntegro. Geralmente resulta de acidentes com veículos motorizados e quedas que causam rápida aceleração e desaceleração da cabeça.

O estresse da aceleração e desaceleração faz com que o cérebro seja jogado para frente e para trás e para fora das proeminências localizadas na parte inferior do cérebro. Esse movimento rápido do cérebro rompe e lesa as fibras nervosas que regulam todas sensações que chegam ao cérebro e todos os sinais motores que surgem do cérebro, levando a todas as partes do corpo.

2. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO ABERTO (TCEA)
Nele o crânio é fraturado ou penetrado. O Traumatismo Cranioencefálico Aberto é uma lesão visível que frequentemente resulta de ferimento por arma de fogo e faca bem como de acidentes que causam penetração do crânio e exposição da substância cerebral.

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
Os principais comprometimentos observados são:

DÉFICITS FÍSICOS:
• Paralisia (pode envolver todos os membros);
• Alteração do tônus muscular;
• Contraturas;
• Deformidades;
• Ataxia e
• Tremor extrapiramidal.
• Observa-se com frequência a ocorrência de controle postural deficiente e distúrbios na fala, através da ocorrência de disartria e apraxia.

DISTÚRBIO SENSORIAIS:
• Perda da capacidade de discriminação ou distorção na discriminação tátil- dor, temperatura e textura e propriocepção,
• Déficits na percepção auditiva;
• Déficits na percepção gustativa;
• Déficits na percepção olfativa;
• Déficits na percepção visual.

DÉFICITS COGNITIVOS
• Habilidade para manter a atenção e concentração pode estar afetada em decorrência da dificuldade do paciente em “filtrar” estímulos irrelevantes.
• Pode apresentar amnésia pós-traumática;
• Dificuldade para aprendizagem de novas habilidades e
• Déficits de linguagem.
• Os déficits perceptuais manifestam-se como desordem na relação espacial, esquema corporal e inabilidade de reconhecer objetos familiares.

DÉFICITS COMPORTAMENTAIS
Os distúrbios de comportamento podem ocorrer nos estágios iniciais da reabilitação, manifestando-se pela ocorrência de:
• Labilidade emocional (mudança rápida e imotivada do humor ou estado de ânimo);
• Agressividade física ou verbal;
• Desorientação;
• Impulsividade;
• Agitação;
• Irritabilidade;
• Baixo limiar de frustração;
• Desinibição sexual. Esses déficits acarretam a redução ou perda do contato social, podendo afetar a auto estima e, consequentemente, a qualidade de vida.

As complicações secundárias incluem a ocorrência de respostas anormais do sistema nervoso autonômico, lesões do sistema musculoesquelético e de nervos periféricos e ocorrência de ossificação heterotópica (há formação de tecido ósseo fora do esqueleto).

Na prática diária sabe-se que as sequelas que mais interferem na reabilitação da pessoa que sofreu TCE são as cognitivas, que se referem às habilidades de pensamento, como atenção, organização, planejamento, tomada de decisões e resolução de problemas, noções de julgamento e segurança, raciocínio, percepção de seus limites e déficits de memória remota e recente.

PROGNÓSTICO
Cerca de 70% dos indivíduos com lesões inicialmente consideradas graves voltam a andar e serem independentes na realização de suas atividades de vida diária (AVDs).

Alguns parâmetros de bom prognóstico na fase aguda são a atividade pupilar à luz, isto é, quando ela reage a luz contraindo-se, e a presença de movimentos oculares espontâneos.

Respostas motoras anormais , como atitude de descorticação , sequela mais grave .

Aos seis meses de lesão, pode-se utilizar a Escala de Evolução de Glasgow, que considera:

Cada pessoa evoluirá de uma forma, dependendo da gravidade, tempo e local da lesão. Algumas pessoas passarão por todos os oito níveis da Escala De Níveis Cognitivos Rancho Los Amigos (um de cada vez), e outras evoluirão até certo estágio e nele permanecerão .

TRATAMENTO
Talvez o TCE seja a lesão adquirida mais intrigante, que exige avaliação extensa e apurada nas diversas áreas, pois durante cerca de 24 meses os pacientes passam por mudanças significativas.

O paciente deve ser acompanhado por uma equipe multiprofissional que pode ser constituída por neurologista, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, dentre outros.

Como a maioria dos pacientes apresenta-se em coma, é necessário que se faça uma avaliação apurada desde os primeiros dias de lesão, afim de identificar quais apresentarão sequelas leves, moderadas e quais permanecerão em estado vegetativo.

O tratamento adequado de reabilitação para as sequelas cognitivas, perceptivas, psicossociais e físicas de TCE é vital, porque uma segunda lesão ocorre em 15 a 20% daqueles que sofrem TCE. Perante as peculiaridades da evolução neurológica dos pacientes é de fundamental importância que o terapeuta ocupacional e o fisioterapeuta iniciem suas intervenções mais precocemente possíveis.

Vale destacar que mesmo que a pessoa encontre-se em estado vegetativo ela pode e deve ser estimulada. O terapeuta ocupacional é um profissional que pode auxiliar também nesse momento.

IMPORTANTE : Com o paciente em coma, é importante que a família e a equipe sejam orientados a diminuir a quantidade de estímulos em certos momentos (silêncio no quarto- sem televisão ou telefone, limitar visitas) e planejar períodos de descanso para o paciente.

Cabe à equipe de reabilitação orientar a família e cuidadores quanto à importância e necessidade do tratamento . Os profissionais devem buscar informações que permitam conhecer, respeitando aspectos culturais e de personalidade do paciente, suas preferências pessoais e também capacitar os familiares e cuidadores para uma estimulação eficaz.

CURIOSIDADE :
Pedro, filho do cantor Leonardo, é um exemplo que é possível a recuperação após o TCE. Ele sofreu um acidente de carro em Minas Gerais no ano de 2012. Ele começou o tratamento de reabilitação e recentemente ele voltou a televisão apresentando um programa.

BIBLIOGRAFIA :
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RADOMSKI, M. V. Traumatismo Cranioencefálico in TROMBLY, C. A.; RADOMSKI, M. V. Terapia Ocupacional para disfunções físicas. São Paulo: Editora Santos, 2005.
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GUTMAN, S. Traumatismo Cranioencefálico In: PEDRETTI, L. W.; EARLY, M.B. Terapia Ocupacional: capacidades para as disfunções físicas. São Paulo: Roca, 2005.
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